quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Por Lucian Chaussard

Santa Catarina: Estado de excelência


Tudo o que Jefferson Bittencourt e Marisa Naspolini provavelmente não queriam era que o texto publicado por eles no DC passasse a impressão de ressentimento do pobre artista criticado. Mas infelizmente foi justo isso o que aconteceu. Admito que há algo de saboroso e novelesco em dar de cara com um texto desse no Diário de sábado (20/09), ainda mais se tratando de crítica, classe artística local e internet. Mas nada impede que possamos nos deter uns minutinhos para tirar algumas conclusões sóbrias sobre o episódio.
De começo, acho que o texto já se apresenta criando uma complicação. Querer resguardar o crítico em conceitos tão breves de razão e ética parece criar uma armadilha onde justamente eles queriam armar seus argumentos. Colocar o crítico como pessoa de bem, construtora da sociedade, é matar sua presença, pois o que o crítico deve causar é instabilidade. Se há alguma contribuição à comunidade, é justamente com essa destruição e recolocação. E para ficar claro, isso não significa ataques e insultos. Normalmente a crítica que mais desestabiliza é a mais elegante.
Além disso, eles reclamam por responsabilidade dos críticos, no sentido de que eles devem responder por seus atos. Eu até compreendo, mesmo não achando justo no caso. Se há infantilidade por parte da pessoa que escolheu se esconder por trás de "Sarah Kane", isso não invalida seu gesto crítico. Não é com a pessoa física que os artistas vão dialogar, mas com o nome vinculado ao texto. Por isso, independente de "Sarah Kane" e "Aline Valim" serem ou não pseudônimos, essas identidades já garantem a possibilidade de diálogo e cobrança. Arrisco até dizer que um contato mais pessoal entre crítico e artista poderia acabar com o diálogo saudável que tanto se deseja. A conversa deve se dar no texto. De tapinhas nas costas os coqueteis em Florianópolis já estão fartos.
Por eliminação, portanto, chego ao ponto óbvio. É sobre o gesto crítico que os artistas deveriam ter atacado. E seria muito fácil, pois as duas críticas têm muitas limitações nos seus pressupostos argumentativos. É bem verdade que a peça da Marisa e do Jefferson tem problemas, mas eles agiram equivocadamente ao não refutar a argumentação de "Aline Valim" na crítica sobre o espetáculo. Pois além de escorregar em impressionismos, a crítica usa de maneira confusa ou facilmente refutável termos como dramaturgia e harmonia, centrais para seu texto. Para "Valim", a peça boa deve ter harmonia nos elementos. Isso é negar toda a modernidade artística e a evidência de que a peça de Jefferson Bittencourt trabalha através dá colagem de fragmentos. É uma falta de predisposição necessária ao trabalho crítico.
Portanto, veja bem, não seria justamente através de uma resposta qualificada por parte dos artistas - atacando os pressupostos da argumentação como fiz - que surgiria o tal diálogo que eles tanto defendem? E escrever um texto assim não foi fechar qualquer possibilidade para isso, além de ocasionar uma desconfiança sobre o que de fato eles querem da crítica?
É irônico, mas deve-se admitir também que foram essas críticas juvenis, escritas em blog ou no DC, que criaram algum movimento no circuito de teatro catarinense, coisa que a crítica responsável e embolorada não faz há tempos. Lembro-me no ano passado, que a cada estréia de espetáculo surgia em alguns a apreensão de se "Sarah Kane" estava na platéia. Isso só mostra a sede de diálogo crítico que há na produção local. Só faltam as partes pararem de bater cabeça.

Lucian Chaussard

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