sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Poemas de Eugênio de Andrade

Fadiga

Falar é fatigante. De todas as estrelas, a mais rouca e ácida é também a mais próxima. O inverno convida à promiscuidade, os olhos acabam por cair no curral - quem não amou um porco?
Nenhum lugar de amor é triste, mesmo uma estrebaria pode ser o paraíso.


A beleza

Chovera. Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta, os oiros glaucos de Bellini espalhados pelas lajes molhadas e os verdes todos, do esmeralda ao musgo, escurecidos pela noite que se avista já de algumas mansardas. Porque a belezaa, ou é esta entrega a quem de súbito a descobre, ou se esconde, cruel, a quem faz da sua procura uma perseguição de carniceiro
Apelo
De vez em quando paramos de crescer. É da chuva, do frio, desta humidade a que estão sujeitos no norte ossos e barcos, árvores e pedras. É então grande a tentação da pocilga. Como se o fecundo calor do porco fosse uma promessa, um apelo, às nossas trevas, do sol escondido na palha apodrecida.

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