quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O coração de Zagreu

Por Aline Valim
O Coração de Zagreu
Um ponto para reflexão: todos têm lugar ao sol, mas sombras pairam pelos palcos, sombras torturantes.
Um estado que permite que Valdir Dutra seja considerado um homem de teatro. Em que cadernos de cultura dão páginas inteiras às obras encenadas por ele, só pode mesmo rechaçar qualquer espírito crítico. Parece que existe um pacto, um não bate no outro e todos ficam vivos, ocupando pseudo-espaços. Por que um homem que faz um teatro tão absurdamente estapafúrdio nunca foi/é questionado? Falo de um questionamento estético, e, em público, porque tecer comentários jocosos, entre rodinhas de gênios da encenação, não vale, por que valeria?Ele distorce clássicos infantis. Agride ao público, mas agredir crianças parece ser permitido. Não se é permitido escrever uma crítica sobre um espetáculo de pessoas sérias, profissionais, que se dedicam ao teatro, estudam e procuram acertar. Muitas vezes isto não é o suficiente e se erra. Foi o que aconteceu com Simulacro de uma Solidão.Como ninguém fala nada? Este senhor é mil vezes mais nocivo ao teatro catarinense do que milhares de críticas, mesmo que todas estejam equivocadas, porque críticas equivocadas são passíveis de se rebater, de dialogar, de se discutir. Valdir Dutra destrói o imaginário infantil, afasta crianças do teatro, deturpa textos clássicos e subestima a inteligência das pequenas criaturas ávidas de saber.Desconfio que não exista uma única pessoa fazendo teatro em Santa Catarina que tenha assistido aos espetáculos dele na infância, se existir eu quero conhecê-la, pessoalmente, para dar um prêmio, por não ter desistido quando tudo apontava para a falência dos sentidos, para a nulidade de provocação e ao desrespeito pelo público, ao teatro, a Zagreu, o primeiro Dioniso.Como não sou leviana, nunca serei. Tive que colocar minha vida diante de um espetáculo deste senhor. Como se permite que tal coisa aconteça sem se dizer nada. Este povo só pode mesmo estar vivendo em concha, e olhem que eu fui acusada de estar em estado de concha.Escrevo para mostrar que o problema todo está sim na crítica. Não é possível que um estado que tenha tanto, mas tanto a rever no seu teatro se suscetibilize com um texto mostrando uma visão sobre um espetáculo. Meus lindos, meu deus! Por que todos ficam calados? Por que ninguém, mas ninguém mesmo, diz nada para este senhor que vive percorrendo o estado todo, com caça-níqueis de última categoria.Eu não entendo mesmo a lógica do que acontece neste estado. Faz bem lembrar “o velho” Nietzsche “Aqui estão esperanças; mas o que verão e ouvirão delas, se não tiverem experimentado brilho, ardor e auroras nas suas próprias almas?”.Seria muito, mas muito produtivo que toda esta sanha destinada a uma crítica fosse usada para arder auroras nas almas das pobres crianças que são abusadas, porque o que vi em cena, deste senhor, não merece análise, pois não é teatro, é abuso, abuso dos mais requintados. Pobres almas, quem as socorrerá!E assim continua o tal de Teatro Independente por Blumenau, Joinville, Criciúma, Rio do Sul, Florianópolis... Assolando as auroras de nossas crianças! E o coração de Zagreu, continua na perna de Zeus! Ah, o coração de Zagreu! Quem nos salvará! E segue pelo estado Os Três Porquinhos e o Lobo, Coelhinho Detetive, Joãozinho e Maria na Casa da Bruxa e As Aventuras do Saci Pererê. Repito, quem salvará nossas crianças? Professores da UDESC e outras universidades têm esse compromisso. Pois são educadores, não? Nossos clássicos infantis desvirtuados. E há quem reclame da minha virtualidade, sejam reais, por favor!

Aline Valim é poeta.

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